Republico:
MEU PAI ME ENSINOU
Já se passaram mais de sete décadas...
Recordo-me com muita satisfação de fatos freqüentes em minha infância. Um deles é o seguinte:
Eu e meu irmão mais velho, Diló, que atualmente reside no bairro da Serra, em Belo Horizonte, éramos garotos sadios, e espertos. Às vezes fazíamos trapalhadas, pois jogávamos pedras com “estilingue” (bodoque) no telhado dos vizinhos. Mas... isso já passou, deixa pra lá.
Nosso pai, conhecido como Sô Ilidinho, era comerciante. Diversas vezes, durante a semana, nos acordava pela manhã, bem cedinho, com o dia ainda escuro e nos convidava para sair à rua, a fim de achar dinheiro (pratinhas). Explicava que alguma pessoa poderia ter perdido alguma moeda, durante a noite. Caminhávamos, então, em direção à parte onde o comércio era mais movimentado no período noturno.
Importante: sempre achávamos dinheiro! Era comum encontrar duas a quatro pratinhas. Como era gostoso abaixar e apanhar aquelas moedas.
Antes de voltar pra casa, papai nos conduzia às margens do rio Piracicaba que, na época, tinha águas cristalinas. Descalços, entrávamos no rio e nos ensinava a nadar. Que delícia!
Eu e o Diló deitávamos na água e papai, com a palma da mão debaixo de meu queixo, mantinha minha cabeça fora d’água para que aprendesse a boiar, movimentar os pés e braços, enfim, aprendesse a nadar. Claro que aprendi. Diló, igualmente: como nadávamos bem!
Chegando em casa, nossa mãe, Nhanhá, colocava 2 ovos de galinha caipira a esquentar, um pra mim outro para o Diló. Em seguida, servia-nos café-com-leite e pão com manteiga. Que saudade de meus pais!!!
Depois que me tornei adulto, pensei:
- Seria o próprio papai quem jogava as moedas para a gente encontrá-las? Seria esta a sua maneira de nos acostumar a levantar sempre bem cedo?
Se assim foi, conseguiu o objetivo.
Todo fim de semana, eu, Diló e outros companheiros nadávamos no Piracicaba, que era bem mais profundo e limpo do que hoje.
O lugar predileto para entrada no rio era exatamente onde agora está a Ponte dos Arcos, da qual falei outro dia. Em nado de braçadas, alcançávamos a outra margem, 50 metros abaixo. Após um pequeno descanso, nadávamos de volta até o meio do rio. Daí, em nado de costas, a água nos levava até um local próximo à atual ponte Eliezér Batista, exatamente onde existia uma praia de areia bem branquinha, na qual brincávamos a valer.
|